Este site usa cookies para melhorar a navegação. Ao navegar no website concorda com o seu uso. Para saber mais leia a nossa Política de Cookies.

Igualdade é um ativo a ter em conta pelas empresas inclusivas

Crédito: PEPE BRIX.

Igualdade é um ativo a ter em conta pelas empresas inclusivas

As novas gerações são sensíveis aos temas relacionados com a igualdade, um direito fundamental inscrito na Constituição Portuguesa. Para reter colaboradores e atrair novos clientes, hoje as empresas devem equacionar a adoção de estratégias que valorizem estes temas.


Publicado em 5 de Novembro de 2021 às 17:34
Por Cofina Boost Content

Ter uma estratégia de diversidade e inclusão, já não é apenas uma moda ou apenas mais um item na política de recursos humanos, mas é cada vez mais um fator de melhoria da gestão das empresas. É ponto assente que este tipo de estratégia é encarado como uma ferramenta de produtividade, de inovação e até de ganhos financeiros. Afinal, pessoas com diferentes origens, formações e experiências de vida são capazes de identificar nas organizações problemas, desafios, obstáculos, riscos e soluções também diferentes.

No entanto, é necessário mais que diversidade para poder-se envergar o título de inclusão. É preciso gerar ambientes inclusivos que favoreçam todos, e cada indivíduo, com o conjunto das suas caraterísticas, é preciso dar voz à diversidade.

As temáticas da diversidade e inclusão (D&I) estão na ordem do dia não só a nível europeu como no panorama nacional. Promover locais de trabalho inclusivos tem sido reforçado pela ação da Comissão Europeia que passou a destacar maio como o Mês Europeu da Diversidade. A este propósito, a Comissária Europeia para a Igualdade, Helena Dalli, deixou um depoimento muito forte na defesa da promoção de D&I ao afirmar que “vamos todos assumir uma postura mais ousada em relação à diversidade e agir a respeito disso (…) com locais de trabalho mais diversos, criaremos uma Europa mais justa e igual para todos”.

Portugal está bem na fotografia

Questionada sobre a forma de como Portugal é percecionado quando se trata de temas da D&I, a presidente do GRACE (Grupo de Reflexão e Apoio à Cidadania Empresarial) em representação da VdA – Vieira de Almeida, Margarida Couto, realça que a perceção do País, quando comparado com outros países europeus, “é a de que têm sido feitos progressos, mas que ainda há um longo caminho a percorrer”. Quanto ao caminho a percorrer, Margarida Couto refere-se aos dois Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) mais relacionados com os temas da diversidade e inclusão: ODS 5 – Igualdade de Género e ODS 10 – Redução das Desigualdades. A presidente do GRACE lembra que “Portugal tem uma legislação avançada em ambos os temas (Leis de quotas, quer para a representatividade de género na gestão de topo das organizações públicas e privadas, quer para a integração de pessoas com deficiência no mercado de trabalho), o que é um aspeto positivo”. Margarida Couto socorre-se do ‘Sustainable Development Report 2020’, para referir que “a evolução de Portugal para atingir as metas traçadas a nível global é tendencialmente positiva, ainda que permaneçam grandes desafios, agora agravados pela pandemia, que afetou de forma mais intensa aqueles que já eram os mais vulneráveis”. Neste âmbito, assume que o GRACE está a trabalhar com os associados os diversos temas relacionados com diversidade e inclusão, nomeadamente realizando sessões de capacitação sobre Recrutamento e Inclusão de Pessoas com Deficiência ou sobre Empresas e Direitos Humanos, tendo ainda constituído um Cluster dedicado ao ODS 5, constituído por 21 empresas associadas.

Aceitar as diferenças

Dentro do chapéu da diversidade e inclusão, um dos temas a ter em conta é a igualdade, seja de género, raça, cor, orientação sexual, origem étnica ou religião. Em Portugal, a igualdade entre mulheres e homens é um princípio fundamental da Constituição da República Portuguesa, sendo tarefa fundamental do Estado a sua promoção.

Os argumentos que justificam a adoção de uma estratégia que valorize a igualdade ganharam um novo fôlego com a propagação da pandemia da Covid-19. De acordo com Margarida Couto, a pandemia “veio acentuar a importância de as empresas se focarem mais nas suas pessoas e nas suas comunidades e é visível que as empresas compreenderam isso”. A presidente do GRACE, sublinha ainda que “as novas gerações são bastante sensíveis aos diversos temas relacionados com a igualdade, pelo que, as empresas que não adotarem estratégias que a valorizem poderão ter mais dificuldade em reter colaboradores e em atrair novos clientes/consumidores, perdendo, em consequência, competitividade no mercado”.

Sobre como o conceito de igualdade deve ser entendido, a mesma fonte admite que o mesmo “é necessariamente abrangente e tem sido interpretado de forma claramente evolutiva no contexto empresarial, dado que as empresas são ‘seres orgânicos’ que se adaptam ao contexto no qual vivem a cada momento”, acrescentando ainda que, no limite, igualdade “implica não apenas que nenhuma forma de discriminação seja aceite (em razão do sexo, da raça, da religião, da orientação sexual, etc.), mas também que as diferenças sejam respeitadas”. E como que parafraseando Boaventura de Sousa Santos, “há que afirmar a igualdade sempre que as diferenças nos discriminem, e afirmar as diferenças, sempre que a igualdade nos descaracterize”, defende Margarida Couto.

Igualdade é um ativo a ter em conta pelas empresas inclusivas

A presidente do GRACE admite que, apesar de a valorização das pessoas, independentemente do género, já ser uma prática levada a cabo por muitas empresas e outras organizações, há ainda muito por fazer. Exemplo disso, nas palavras de Margarida Couto, é “a persistência de um ‘gap’ salarial entre homens e mulheres ou a reduzida presença de mulheres na liderança das organizações”. A legislação existente, no que diz respeito à igualdade de género, às Pessoas com Deficiência, à proteção de Direitos Humanos, entre outras, “é um instrumento positivo, mas só a adoção de melhores práticas pelas empresas pode efetivamente provocar mudanças positivas duradouras”, alerta.

Na verdade, o País tem registado uma evolução no que se refere à igualdade de género, com as mulheres a conquistarem lugares de liderança em diferentes segmentos, com o exemplo da equipa do Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, onde 60% são mulheres. A secretária de Estado para a Cidadania e a Igualdade, Rosa Monteiro, no recém comemorado Dia Municipal para Igualdade, a 24 de outubro, referiu que “Portugal tem sido dos países que mais rapidamente avançou em termos de acesso de mulheres de decisão nas empresas e na política”. A responsável realçou que, ao longo destes 47 anos de democracia, houve lugar à criação de leis e decisões políticas “que nos permite hoje ter este lugar de destaque em termos de avanços muito significativos” em várias esferas, sublinhando ainda que “temos na composição de Governo a maior proporção de mulheres de sempre com 40% de ministras e 36% de secretárias de Estado. Com a lei 62 de 2017 tivemos um incrível aumento nas empresas cotadas que apresentam hoje uma média de 26% de mulheres nos conselhos de administração, um aumento de 14 pontos percentuais em relação a 2017”. A secretária de Estado da Igualdade destacou a progressão nas empresas públicas com uma média de 39% de mulheres nas administrações das empresas do Estado e 29% nas empresas locais com aumentos de 11 pontos e 9 pontos percentuais respetivamente face a 2017. Entre outros exemplos, apontou também que a lei da paridade nos cargos de decisão política que “alterámos em 2019 permitiu que, nas legislativas, a proporção de mulheres aumentasse para 38,7%”.

Nesta fase, um dos conceitos para o qual as empresas já estão conectadas diz respeito à cidadania empresarial. Margarida Couto assume que “felizmente é uma realidade crescente no panorama português e exemplo disso são as mais de 180 “empresas cidadãs” que são associadas do GRACE – Empresas Responsáveis. Apesar de não valorizarem todas os mesmos temas, todas contribuem para uma sociedade melhor. Na própria instituição que preside, há empresas certificadas com um Selo de Igualdade Salarial, outras que apresentam um Índice de Diversidade de Género superior à média, outras ainda que foram distinguidas com a Marca Entidade Empregadora Inclusiva, entre “muitos outros bons exemplos de iniciativas empresariais criadoras de valor social”.