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Cuidar das finanças para não ter de remediar

Cuidar das finanças para não ter de remediar

Tomar decisões acertadas e criteriosas depende do nível de conhecimento que se tem das ferramentas do mundo financeiro. A aposta na literacia financeira é essencial para gerir as finanças pessoais.


Publicado em 6 de Dezembro de 2021 às 19:56
Por Cofina Boost Content

Portugal tem procurado aumentar os níveis de literacia financeira, mas ainda há muito caminho a percorrer até que a gestão das finanças seja norteada apenas por decisões conscientes e acertadas. Ainda assim, é ponto assente que os portugueses contam hoje com mais literacia financeira do que há alguns anos, comprovado pelo recente estudo da Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM), “Financial literacy for investors in the securities market in Portugal”, conclui que “o conhecimento financeiro tem vindo a aumentar ao longo do tempo” constatando-se uma melhoria na generalidade “desde o último inquérito em 2015, incluindo nas questões numéricas genéricas e no conhecimento sobre investimento”.

O inquérito, que englobou mais de 15 mil pessoas, avaliou se os inquiridos conseguiam calcular os juros que receberiam por uma poupança. A maioria, 67,7%, respondeu corretamente para um investimento a um ano, mas quando questionados sobre quanto dinheiro teriam ao final de cinco anos numa poupança com juros compostos, a percentagem de respostas certas diminuiu para 44,6%.

Quando as perguntas abordam temas que obrigam a maiores conhecimentos, as respostas corretas caem. Por exemplo, apenas 18% dos inquiridos responderam corretamente sobre o que significa um investimento ter garantia de capital na maturidade e apenas 18% sobre o que é a taxa Euribor, a par de 64% admitir nunca ter investido.

O mesmo relatório mostra que a percentagem de inquiridos que diz “não poupar” diminuiu de forma contínua dos 48% em 2010 para 38% em 2020, demonstrando uma maior poupança das famílias portuguesas

Consequências da iliteracia financeira

Num cenário de maior literacia financeira, tomam-se decisões mais informadas e criteriosas quando se trata de gerir as finanças pessoais, ao mesmo tempo que se promove o bem-estar individual. Quando se escolhem produtos e serviços financeiros adequados ao seu perfil de risco e necessidades financeiras, os indivíduos canalizam os seus recursos de forma mais eficiente, evitando situações de incumprimento, e contribuem também para a estabilidade do sistema financeiro e para o crescimento económico.

De acordo com o Banco de Portugal, é possível identificar algumas consequências da iliteracia financeira, como:

Algumas dicas podem ajudar a ganhar competências na literacia financeira. Por exemplo:

Impõe-se uma transformação geracional

O economista e presidente da IMF – Informação de Mercados Financeiros, Filipe Garcia, alerta: “Uma literacia financeira limitada ou inexistente vai com certeza contaminar o resto das outras dimensões da vida. Faz todo o sentido pensar na literacia financeira como essencial para a qualidade de vida.”

Filipe Garcia defende mesmo que deveria haver “uma transformação geracional para dar às crianças e jovens ferramentas para começarem a perceber como funciona o mundo. Para poderem tomar melhores decisões”. O economista lembra que no País ainda se vive com um nível de literacia financeira baixo, o que advém da ausência destas matérias nos currículos escolares. Por isso, sugere que temas como saber o que é um juro composto ou mesmo capitalização sejam ensinados nas escolas desde cedo e que não se deixe apenas para os alunos que escolhem cursos ligados à área financeira.

Filipe Garcia sublinha que a literacia financeira ajuda “a tomar algumas decisões, nomeadamente, ao nível do endividamento, da alocação de rendimento, na compreensão dos produtos financeiros e das alternativas que existem de maneira a não ser enganado e não se deixar tentar por determinadas ofertas que parecem boas demais, mas que depois acabam por ser fraudulentas e arriscadas”.

Para o economista “sabemos que a literacia financeira pode não parecer, mas às vezes é uma questão de vida ou de morte. Porque más decisões financeiras, por vezes, levam a más decisões de carreira, a problemas familiares muito sérios, a divórcios e ansiedade”. E garante que esta visão pode parecer exagerada, mas não é: uma boa vida está associada a uma boa vida financeira, e está intimamente ligada à literacia financeira.

Portugal começa a destacar-se

Ainda assim, a estratégia de aumentar a literacia financeira da população, contribuindo para o bem-estar financeiro, é um objetivo que está em cima da mesa dos supervisores financeiros – que reúne o Banco de Portugal, a Comissão do Mercado de Valores Mobiliários e a Autoridade de Supervisão de Seguros e Fundos de Pensões –, que têm assumido esta aposta como um projeto de longo prazo.

Os números que vão sendo divulgados já dão nota de alguma subida no conhecimento dos conceitos do mundo financeiro. É disso exemplo o “3.º Inquérito à Literacia Financeira da População Portuguesa”, realizado, em 2020, pelo Conselho Nacional de Supervisores Financeiros (CNSF), que revela que, numa comparação internacional que contou com 26 países participantes, Portugal ocupa o sétimo lugar no indicador global de literacia financeira. O País conseguiu resultados acima da média nos indicadores de atitudes e comportamentos financeiros e em indicadores de resiliência financeira. Por exemplo, ocupa o quinto lugar nos indicadores de atitudes financeiras e de comportamentos financeiros.

Trabalho de “formiguinha”

Quando se trata de literacia financeira, fonte oficial da Associação Portuguesa de Seguradores (APS) refere que este conceito “é já, sem dúvida, uma realidade em Portugal. Tanto assim é que já integra o plano de estudos do ensino no nosso país, sendo uma disciplina opcional das aulas de Cidadania e muitas escolas já a adotaram nos seus planos curriculares”. A mesma fonte da APS destaca que “começamos, também, a assistir ao crescimento de ações dirigidas ao segmento mais sénior e que estão a ter bastante sucesso”.

Sobre quais as ações que devem ser adotadas para se impulsionar a literacia financeira, a mesma fonte afirma que “este é um trabalho de ‘formiguinha’, um trabalho contínuo e persistente, junto dos vários tipos de público, escolhendo os materiais e os meios que melhor se adequam a cada faixa etária e a cada tipo de destinatários”. A APS detalha que “muito importante, por exemplo, no caso dos livros, é acompanhar as ações com fichas, que fornecem sugestões para orientar a análise individual, o convite à escrita, ou o debate, na sequência da leitura de cada capítulo ou conjunto de capítulos”.

A mesma fonte da APS cita também os resultados do “3.º Inquérito à Literacia Financeira da População Portuguesa”, do CNSF, em que se pode ler que “os que têm 70 anos ou mais, os entrevistados sem instrução ou com o 1º ciclo do ensino básico ou os que vivem em agregados familiares sem rendimento ou com rendimento líquido mensal inferior a 500 euros são grupos com resultados menos favoráveis”.

Ainda que Portugal atualmente não esteja na liderança, a verdade é que a literacia financeira é tida como fundamental para o desenvolvimento de uma sociedade mais informada e para a tomada de decisões financeiras com melhor e maior conhecimento e para a confiança dos investidores.