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Investir verde para salvar o planeta

Investir verde para salvar o planeta

A emissão de títulos sustentáveis tem vindo a aumentar e está a influenciar a tomada de decisões de governos, empresas e instituições


Publicado em 10 de Fevereiro de 2022 às 10:08
Por Cofina Boost Content

A urgência de travar as alterações climáticas obrigou a que cada vez mais se adote práticas de sustentabilidade que contemplem os passos para atingir a meta de emissões neutras em carbono até 2050. Hoje, as empresas quando investem não podem olhar apenas para o lucro, mas têm de avaliar também o impacto que a sua cadeia de produção tem na componente ambiental.

É inevitável ter em conta o cumprimento dos Environmental, Social and Governance (ESG) que agregam as preocupações ambientais, sociais e de boa governança das sociedades do mundo empresarial e dos investimentos. O conceito de finanças sustentáveis compreende qualquer serviço ou produto financeiro que integre critérios de sustentabilidade nas suas características. Esta integração diz respeito à inclusão dos fatores ESG nos modelos de negócios ou decisões do setor privado, público ou terciário (como as ONG).

A verdade é que a defesa do conceito de finanças sustentáveis está a marcar a estratégia de empresas e instituições internacionais.

A União Europeia (UE) já anunciou um pacote de medidas destinadas a melhorar o fluxo de fundos para atividades sustentáveis no espaço comunitário. Na realidade, trata-se de um guia para classificar os investimentos que são considerados “verdes” e os que o não são em setores que vão desde a indústria aos transportes.

Num dos principais pontos deste pacote está o ato delegado relativo à taxonomia da UE no domínio climático, que irá apoiar o investimento sustentável, indicando quais as atividades económicas que mais contribuem para a realização dos objetivos ambientais.

Por seu turno, o Banco Europeu e Investimeno tem como objetivo aumentar o financiamento dedicado à ação climática e à sustentabilidade ambiental para mais de 50% do financiamento total a partir de 2025.

O partner e Head of Governance, Risk and Compliance/Conducting Officer da gestora de fundos Sixty Degrees, António Mello Vieira, salienta que “o investimento com base em critérios ESG não é uma moda e veio para ficar. Há décadas que as empresas têm vindo a adaptar o seu modelo de negócio, com práticas e investimentos mais responsáveis e devidamente monitorizados por critérios objetivos, de modo a não perder a sua base de acionistas”.

António Vieira destaca ainda que “estas preocupações continuarão a ser reforçadas para fazer face à crescente exigência por parte dos investidores”. No entanto, ressalva que “de momento, esta é também uma relevante questão de marketing, mas em termos de performance parece, pelo menos para já, ter uma influência diminuta no retorno face aos índices generalistas”.

O investimento ESG tem ganho quota e mediatismo, devido ao interesse nesta área, especialmente da energia ’verde’, que, na prática, já vem há muito tempo a ser uma preocupação das maiores empresas do mundo.

António Mello Vieira, partner e Head of Governance, Risk and Compliance/Conducting Officer da gestora de fundos Sixty Degrees

Ainda assim, o partner da Sixty Degrees identifica os aspetos positivos desta aposta: “Salientamos a mobilização da sociedade civil e dos governos, no sentido de criar legislação específica sobre este assunto ao longo do tempo, incluindo a adesão a acordos internacionais, como o Protocolo de Quioto e o Acordo de Paris, entre outros.” E conclui que “esta “colaboração” tem tido como objetivo proceder à integração dos fatores, dos riscos e das preferências de sustentabilidade, quer nos requisitos em matéria de organização quer nas condições de exercício da atividade das empresas de investimento, bem como junto da comunidade investidora”.

António Vieira lembra que, nos últimos dois anos, devido à pandemia e à pressão de mudança do paradigma energético, “o investimento ESG tem ganho quota e mediatismo, devido ao interesse nesta área, especialmente da energia ’verde’, que, na prática, já vem há muito tempo a ser uma preocupação das maiores empresas do mundo”. Outro investimento associado ao ESG são as chamadas green bonds, ou obrigações “verdes”. A mesma fonte explica que são obrigações exatamente com as mesmas características que as restantes emissões do mercado, mas com a particularidade de o dinheiro levantado estar “marcado” para ser utilizado em projetos com impacto ambiental positivo ou benefícios climáticos associados.

As chamadas green bonds, ou obrigações ‘verdes’, são obrigações exatamente com as mesmas características que as restantes emissões do mercado, mas com a particularidade de o dinheiro levantado estar ‘marcado’ para ser utilizado em projetos com impacto ambiental positivo ou benefícios climáticos associados.

António Mello Vieira, partner e Head of Governance, Risk and Compliance/Conducting Officer da gestora de fundos Sixty Degrees

Algumas destas obrigações também estão especificamente ligadas a ativos ou projetos relacionados com a área ambiental.

É preciso ter em conta que não são apenas as empresas a utilizar este tipo de emissões, isto porque alguns governos também já estão certificados reunindo desta forma condições para emitirem green bonds.

Apesar dos custos associados por parte das entidades que acedem a este mercado, sobretudo no reporte sobre a utilização do dinheiro, elas “têm conseguido diversificar a sua base de investidores e utilizado o marketing associado ao seu perfil de negócio ‘verde’ como estratégias de benefício adicional”, remata o responsável da Sixty Degrees.

É ponto assente que a procura dos investidores por green bonds e climate bonds é forte e aumentará consoante a maior disponibilização de produtos de qualidade no mercado.

Abordagem sustentável

Porque decide uma empresa responsável, como o Grupo Ageas Portugal, adequar o seu processo de investimento a regras e princípios de sustentabilidade? Margarida Sarmento, Responsável de Investimentos Sustentáveis do Grupo Ageas Portugal, enumera quatro motivos. Em primeiro lugar, o investimento tem uma influência relevante nas três dimensões do ESG: no ambiente, na dimensão social e na de governo societário. Em segundo lugar, a sociedade civil tem vindo a organizar-se em Associações cujo propósito é a prossecução de objetivos de sustentabilidade. É o caso da Net-Zero Insurance Alliance (de que o Grupo Ageas é membro) ou os Princípios para o Investimento Responsável (PRI) das Nações Unidas. Por outro lado, e em terceiro lugar, assiste-se a uma maior regulamentação destas matérias, com a UE a assumir um papel de liderança. E, finalmente, porque Clientes, Fornecedores e Investidores são intervenientes exigentes nestes temas e preocupações.

O Processo de Investimento Sustentável da Grupo Ageas Portugal aplica-se na gestão de Seguros e Fundos de Pensões e rege-se por três Princípios básicos, exclusão, integração de ESG e, por último, envolvimento.

Margarida Sarmento, Responsável de Investimentos Sustentáveis do Grupo Ageas Portugal

Margarida Sarmento explica que “o Processo de Investimento Sustentável do Grupo Ageas Portugal aplica-se na gestão de Seguros e Fundos de Pensões e rege-se por três Princípios básicos”, a saber:

I. Exclusão – Não podem ser realizados investimentos em empresas (ou ativos) cuja atuação viole regras básicas gerais (armamento, tabaco, paraísos fiscais não-cooperantes, entre outros).

II. Integração de ESG – Cada ativo é avaliado nas três dimensões com métricas específicas, havendo um patama mínimo para que se possa concretizar o investimento.

III. Envolvimento – Deve haver intervenção nas empresas em que se investe através do exercício de voto nas respetivas Assembleias e influenciando-as de modo a tornar as suas práticas alinhadas com os princípios de ESG.