Partilhar receitas para aumentar o impacto na sociedade
Em 2022, a Fundação Ageas implementou uma nova estratégia de filantropia, com uma política de investimento desenhada para promover o crescimento sustentado de organizações sociais. O objetivo é aumentar o seu impacto na sociedade portuguesa, respetivamente nas áreas da saúde, do envelhecimento e da exclusão social.
Publicado em 17 de Novembro de 2023 às 15:35
Por Fundação Ageas
A Fundação Ageas decidiu revisitar a sua estratégia porquê? Por causa das Organizações sociais. Os dados indicam que estas têm graves problemas no acesso a financiamento, com implicações no seu dia-a-dia que limitam o impacto das suas atividades nos beneficiários. Isto acontece porque os recursos dos financiadores, entre os quais as fundações, são insuficientes para suportar as atividades de mais de 70 mil organizações da economia social. Para aprofundar o seu apoio às organizações sociais, a Fundação Ageas decidiu apostar no investimento de impacto, comprometendo-se com financiamento considerável, flexível e de longo-prazo e com um envolvimento dinamizador e próximo das organizações mais inovadoras. Uma das ferramentas que a Fundação tem utilizado é o acordo de partilha de receitas.
Como funciona então este instrumento financeiro?
Partilhara título exemplificativo, podemos assumir o seguinte: a Fundação apoia uma Organização social que promove o envelhecimento ativo. A organização em causa trabalha com 200 idosos no município de Lisboa. O objetivo do apoio seria escalar a intervenção para 10 municípios, envolvendo 2500 beneficiários. Através do acordo, a Fundação investe 200 mil euros na organização, que aceita partilhar, durante um período pré-definido, uma parte das suas receitas futuras com a Fundação, que podem eventualmente totalizar 225 mil euros.
Mas, se paga mais do que recebe, qual é então a vantagem para a Organização?
Antes de mais, é importante reforçar que o apoio só tem duas condições associadas, contribuir para o crescimento da organização e para o seu impacto. Ou seja, com o financiamento a Organização pode contratar recursos humanos fulcrais para as suas operações e sem uma ligação direta às atividades que desenvolve com os beneficiários. Além disso, o acordo pode incluir um período de carência. Isto é, as duas entidades podem definir dois anos sem partilha de receitas para a organização social robustecer a sua intervenção e escalar as suas operações. Se o apoio começasse em 2023, a Organização partilharia a percentagem combinada das suas receitas anuais, cerca de 10%, apenas a partir de 2025 e consoante as suas capacidades.
Mas existem outras vantagens. Se a Organização começar a partilhar receitas em 2025, a expetativa é que o faça até 2029 e não para sempre. E acima de tudo, a partilha acontece apenas quando as receitas da organização se encontram acima de um nível mínimo pré-estabelecido – por exemplo, 100 mil euros de receita anual. Além disso, também existe a hipótese de o acordo considerar cláusulas de impacto, como um estudo científico que valide os benefícios das atividades nos beneficiários, que podem reduzir o montante total a partilhar com a Fundação. O tal valor de 225 mil euros pode ser reduzido até aos 200 mil euros – garantindo que ambas as partes estão de facto primordialmente focadas no impacto.
Ou seja, no pior cenário, a Organização não partilha qualquer verba e o investimento é semelhante a um subsídio. No melhor dos cenários, a organização cresce, o seu impacto aumenta, tal como a sua sustentabilidade financeira. Para a Fundação, o sucesso do projeto também passa a ser sinónimo de retorno financeiro, que pode assim ser reinvestido noutras Organizações com potencial, mas limitadas pelas dificuldades no acesso a financiamento.